D287, alta!

Mais um dia intenso, mas com final feliz, com todos de volta para casa no início da noite. A noite de anteontem nos deu alguns ensinamentos para a de ontem, que já ajudaram bastante. Nossa baixinha definitivamente não quer mais dormir confinada no berço, principalmente no hospital. Quanto ao berço, que em casa já tem dado sinais que já se encheu dele, demos um jeito e como na noite anterior, nos apertamos em um canto da cama e ela dorme confortável conosco. Quanto ao hospital, não tinha jeito, tínhamos que estar, mas sempre com fé de que seria uma questão de tempo, mas que em algum momento voltaríamos para casa. E foi hoje mesmo.

Voltamos para casa! Dentro do melhor cenário, o mais otimista que foi traçado ontem, apesar de ter sido um dia bastante duro. Nossa baixinha dormiu melhor. Depois da experiência de anteontem com a Bel, Nini e Rodrigo não pensaram duas vezes e colocaram logo a baixinha para dormir na cama com o papai. Não dormimos nada, é verdade. Mas nos espremendo no cantinho da cama, acordando a cada enrolada da Bela nos tubinhos do acesso venoso da sua mãozinha, sabendo que ela estava confortável, dormindo serena, é o suficiente para nos fazer bem, por mais que o sono seja, como costumamos dizer "a la Amir Klink no Polo Sul", dormindo 45 minutos e navegando, colocando o barco no rumo durante 15 minutos. Ele deve ter se acostumado, nós ainda não. E esperamos que não seja preciso.

Medicações venosas de madrugada e de manhã com a nossa guerreirinha ainda dormindo. Acordou novamente quase 11 da manhã, com toda a preguicinha do mundo a que tinha direito, uma meiguice total no exame clínico da manhã. Ela já sabe tudo o que tem que fazer, levanta o braço para o termômetro, dá o braço para tirar a pressão, levanta a blusa para ser auscutada e escolhe o dedo que vai dar para medirem a oxigenação e batimentos cardíacos. Vale um vídeo no Youtube para quem tiver filho que não deixar fazer nada disso. Nana precisa ver umas dez vezes.

Abrimos a manhã com a notícia do jejum, pois para fazer a tomografia poderia ser preciso injetar contraste, ou até de anestesia, caso a Bela não ficasse quietinha. Fácil fazer jejum em tempos de inapetência, muito creditada ao estado gripal dela e não à quimio. A paz da manhã se desfez rapidamente, com a entrada da enfermeira com o garrote de borracha para a coleta de sangue. Na verdade já fica desconfiada e o seu humor e fisionomia se alteram já ao passarmos a pomada anestésica no seu bracinho, que depois desses 4 dias, sobrou somente o esquerdo como opção. Colaborando com o inevitável e fomos para mais uma picadinha e é bem melhor pegar firme, fazer e dizer "pronto, já acabou, já passou", do que ficar perdendo tempo, explicando que não vai doer e coisa e tal. Dói, porque dizer que não dói? É realmente um misto de dor com pavor, talvez na proporção de 20% - 80%.

Já ficou "p" da vida com a picada da manhã e pediu berço e chupeta, um tipo não quero falar com vocês, vou ficar no berço vendo o meu vídeo, pois vocês me "sac...". O pior ainda estava por vir, mas já com a companhia da mamãe que chegou a tempo da tomografia computadorizada. A cumplicidade e confiança existente entre as duas economiza uma anestesia. Apesar de que hoje foi um dos piores exames, mais difícil de mantê-la tranquila. Talvez por ter sido o exame em que clinicamente estivesse mais ativa e também já de "saco cheio" de hospital etc etal. Foi uma dureza colocá-la esticada para passar no aro do tomógrafo. Chorava, esperneava presa na cinta da cama e gritava "Mamãe, tira eu daqui, tira eu daqui! Acabou!". Mais uma vez, colaborando com o inevitável, trincamos os dentes e vamos à luta. Pelo menos sabíamos que não era um exame doloroso, só chato por ter que ficar presa. Isso nos dá ainda mais força. Só que hoje a luta teve dois rounds. Foi necessário contraste e o líquido, espesso, levou uma eternidade para descer no seu acesso venoso fininho. Enfim, conseguimos. Não foi considerado um exame cristalino, mas suficiente para nos dar as respostas dos pulmões e também dos rins. Não há nada "grande", com que tivéssemos que nos preocupar. Outra resposta que devíamos há meses para fechar o protocolo passado.

Voltou para o quarto mais "p" da vida ainda e exaurida de tanto chorar. Não quis comer praticamente nada, só algums pistaches e batatinhas, mesmo após mais de 9 horas de jejum e apagou no seu bercinho de novo, que permitiu entrarmos com mais uma das mamadeiras turbinadas com Fortini. Nessas horas é lucro total. Ficamos na espera dos resultados e somente os tivemos na visita da infectologista, que tem feito o seu papel. O do equilíbrio da dureza do tratamento, dos riscos que corremos e principalmente os que não precisamos correr, contra a amizade e carinho que se estabeleceu na nossa relação. Um amor de pessoa, mas que esquece na hora certa quem é a fofinha da Bela, ou quem é a Bel ou o Rodrigo. Sorry paciente, sorry seu bem estar ou conforto, sorry também pais da paciente, mas em primeiro lugar o "safe side".

Hemograma show! Neutrófilos subiram bem, acima do limite do que é considerado sem defesas, mas ainda na área de baixas, mas com relativas defesas. Plaquetas e hemáceas que sentiram o baque, viral ou infeccioso, mas longe, muito longe de mínimos não desejáveis que já experimentamos muitas vezes, voltando para confortáveis números, lá em cima. Esses exames complementados pela resposta das imagens do pulmão, onde não há nada que chame a atenção, apesar da imagem do exame não ter ficado boa, não há nada grosseiro. Essas duas respostas somadas à sua temperatura na casa dos 36º foram a combinação necessária para o passe livre para casa.

Continua o antibiótico oral, mas o chamado de largo expectro, de última geração, que entrou por precuação na segunda, se antevendo ao que não se via, mas que poderia ser que viesse, se encerrou. Seu organismo tem força suficiente para combater o que vier. Entretanto, continua suspenso o tratamento da manutenção por mais um tempo. Não podemos jogar duro com um organismo que está em recuperação. Novo hemograma na próxima segunda e conforme for o resultado reiniciaremos o tratamento no mesmo dia. Última reunião com a hematologista que confirmou a nossa vinda para casa, pois nada melhor do que a própria casa para terminar sua recuperação. Último sofrimento aliviado na retirada do acesso, com uma técnica que fez um "Olha lá, olha lá, olha lá" e quando já se viu não tinha mais nada e vamos colocar o vestido e sapatinho para irmos para casa, para ver a Nana!

Falando na moreninha, passou uma ótima noite na nossa cama com a mamãe. De manhã foram ao shopping comprar um vestinho para ela e para a Teté, para quando ela voltasse para casa. De preferência iguais. É sempre muito bom ficar "à sós" com a Nanoca, vamos no carro conversando, ela contando dos amigos, das novas palavras que aprendeu em inglês e fazendo muitas perguntas maravilhosas, do tipo: "mãe porque na cabine que a gente experimenta roupa não pode menino?".

Ufa! Cinco intensos dias. Estávamos desacostumados. Parece que amanhã é que é segunda, mas que bom que depois já é sexta. Para o papai pelo menos é, pois tem que recuperar o atraso de 3 dias, quando já estava dando uma boa engrenada no trabalho, sem as intercorrências do Planeta Leucemia. Não era o que desejávamos, mas por mais vigilantes que sejamos não controlamos o futuro. Tiramos o lado bom que foi o de espantar alguns fantasmas. Se desapareceram por vez é ainda muito cedo para saber, mas se voltarem, voltam menos abusados.

Temos é muito o que agradecer a todos vocês, pequena família, grande família e amigos, presentes aqui ou não. Criamos uma corrente do bem, de pensamentos positivos, de energias, de vibrações, de orações e de muita fé que nos alimentam emocional e espiritualmente. É incrível. Ficamos cansados, exauridos, mas fortalecidos. Obrigado. Que tenhamos melhores dias pela frente, de recuperação da baixinha, que fique boa logo e que esses vírus que rondam o Rio de Janeiro sumam de vez. Ah e que a Dengue deste ano seja para lá de branda, seria pedir muito? Fiquem com Deus. Muito obrigado por tudo amigos e querida família, Bel e Rodrigo.

PS Cris Pessoa: Parabéns por hoje, muita saúde e paz, para você, Zé, Rô e Gui. Foi bom falar com vocês hoje, já em casa!