T+44, boas notícias, mas sempre tem um porém

Tivemos hoje um bom dia da Bela, em franca recuperação. Sua disposição vem aumentando, o estado febril mais controlado, o abcesso melhorando, mas no Planeta Leucemia em que vivemos há sempre um porém, um contudo, um todavia ou entretanto, que faz com que comemoremos com muita timidez as vitórias, fiquemos sempre desconfiados dos momentos de calmaria, mas o bom é que com uma força incrível no meio das tempestades, até o limite das nossas resistências, quando gritamos por socorro, como já fizemos algumas vezes pedindo mais.

Achamos que o encerramento do ciclo da cortisona, assim como uma bom balanceamento feito pela endocrinologista de ajustar seu metabolismo, que foi diferente do padrão de muitas outras crianças e corroborado por um exame feito ontem, estão ajudando a deixar a Bela com mais disposição. Quase não geme mais quando se mexe ou trocamos ela de posição, tem ficado boa parte do tempo sentada e até consegue sair do estado recostado para a posição sentada sozinha, segurando-se aonde der. Espontaneamente pede os brinquedos ou nos provoca para fazermos palhaçadas, para contarmos histórias ou para puxar papo mesmo. Quando assiste aos vídeos sozinha faz as coreografias, canta, bate palminhas e quando olhamos mais atentos rola uma timidez de uma atriz amadora. Comentamos hoje que lembra a Bela que entrou na emergência no dia 21 de janeiro, quando clinicamente ninguém conseguia dizer que poderia estar com leucemia. A grande diferença é sua fraqueza física, pois não consegue ainda ficar de pé. Tentamos apoiá-la, mas é ainda demais para ela. Mas o humor é outro. Não houve médico que não ganhasse beijinhos ou com quem batesse papo e desse risadas, exceto o cirurgião, de quem falaremos abaixo.

A febre que nos preocupa, apesar de todos dizerem que ela foi muito mexida na terça e ontem também e que seria o processo do abcesso, cedeu. Aí já aparece uma desconfiança se é somente isso, se não poderia ser isso, aquilo ou aquilo outro, como sempre desconfiando de tudo. O bom foi que houve a redução do seu quadro febril, e hoje não passamos dos 37,2°. O cirurgião foi somente de tarde e a Bela só de olhar para ele chora e se pudesse saía correndo. Retirou o curativo que estava bem seco e não teve como deixar de apertar para avaliar como estava. Mais uma vez chorou pela dor que com certeza sentia. Está menor, totalmente seco e mais baixo. Suficiente para permitir um banho e somente um band-aid depois. Continuam os antibióticos e pelo que vimos hoje devemos seguir com eles por mais uns 2 ou 3 dias, talvez não indo ao prazo máximo dos 14 dias que nos disseram.

No final da tarde tivemos uma notícia que pode ser considerada muito boa. A hematologista conseguiu falar com o laboratório que lhe antecipou o resultado do mielograma feito na terça de que não estava sendo encontrada nenhuma doença residual na medula. É um bom sinal de que a medula reage bem ao tratamento e nos ajuda a direcionar a doença e o consequente tratamento para baixo risco. Menor risco, menos drogas e menos risco das próprias drogas do tratamento, que representam também risco, com todos os seus efeitos colaterais. Tratamos timidamente as vitórias, mas nesse caso há crianças que chegam nessa fase com a medula ainda infestada de blastos (as células "terroristas"). Não é o nosso caso, ponto para a Bela!

Nossa timidez é porque sabemos que é um tratamento longo, que pode durar 2 anos. Nossa timidez é também porque já sabemos que se não tem hoje mais doença residual na medula não siginifica que ela esteja curada, pois o exame, por mais apurada técnica e equipamentos que existam, não "enxergam" resíduos mínimos da doença e sabe-se que a medula ainda está doente e que há uma longa estrada pela frente para evitar que a leucemia volte. Keep walking! De novo, não encontrar nada é muito melhor do que encontrar alguma coisa. Nossa timidez é o absurdo de querer ver realmente o exame impresso, pois não está fechado e foi o que o laboratório tinha visto até o momento, talvez já nos 44 minutos do segundo tempo, mas para nós ainda não seria jogo acabado. Permitam-nos sermos desconfiados.

Apesar de tudo, existe uma possibilidade de termos alta no final de semana. Será que poderia ser o presente de aniversário da Bela? Contanto que agora não seja no horário da missa (convite do post de 3/Mar), tudo bem.

Na logística da casa, o Rodrigo substituiu ontem a Bel, que estava virando 2 noites seguidas no hospital e bastante cansada. Teve ontem a noite uma enxaqueca daquelas e ainda está com a cabeça pesada, hoje dormindo no hospital. O Rodrigo passou o dia inteiro no hospital para que a Bel pudesse ficar com a Nana, pois a nossa folguista Jô, que quem pouco temos falado, mas que tem sido outro anjo e que tem ajudado muito, também foi descansar um dia em casa. Temos também que agradecer à Jô, que fazia um curso ao longo da semana, trancou a matricula para nos ajudar com a Nana ao longo da semana ou quando nós precisássemos. Nini (babá), Jô (folguista), Delma (cozinheira) e Eva (foi babá da Bel e nos ajuda nos fins de semana) são nossos anjos da guarda aqui na terra, e não podemos deixar de dar muito obrigado a elas. Só conseguimos nos dedicar às nossas filhotas neste momento tão conturbado das nossas vidas porque vocês estão ao nosso lado, não medindo esforços para nos ajudar.

A Nana passou um ótimo dia indo brincar com a mamãe no clube junto com os amiguinhos Chico e Antonio e a tia Lulu. No fim da manhã, banho coletivo e almoço reforçado para irem todos em caravana para a escola, direto do clube. Sucesso total. A escola já entrou perfeitamente na rotina da Nana. Podemos perceber que embora ela esteja louca para a irmã ficar boa, ela está mais segura com toda esta situação, entendendo que a irmã vai para o hospital, mas volta e querendo ajudar ao máximo. Hoje ela dormiu na nossa cama com a Bel e assim que acordou disse: "Mamãe eu quero ir para o hospital ver a Bela e quero dormir lá também. Eu sou a única que não dorme lá. Pede para eles botarem uma caminha para mim lá?". Muito fofinha. Seu final de dia foi brincando na casa do amiguinho Dedé com o Pepê. Obrigado Quetinha. Vovó Cecília sempre acompanhando a Nana até a chegada do papai em casa, que foi tarde, pois até 9 horas da noita ainda havia médicos no hospital conversando com a gente.

Para finalizar pois ficou longo, do lado das orações, intenções, energias, vibrações, cada um do seu jeito e com sua fé, estamos esperando ansiosos a missa para comemorarmos o aniversário da Bela no dia 8, que a Vovó Lena tem ajudado muito na organização junto com o Padre Klein. Uma boa sexta-feira e fiquem com Deus.