D135 (M39), set over!

A ressaca ainda continua e entram os resgates da QT que correu de terça para quarta. O tranco é forte e o apetite passa ao largo. O humor varia, mas ninguém é de ferro. Ultra-sonografia do fígado feita e não é nada para alarmar por agora, mas vale nova checagem na semana que vem. Teste sérico feito e o nível da droga no sangue bem abaixo da curva esperada, que significou volta para casa hoje mesmo, dentro do protocolo. Fim de mais um set, o terceiro de quatro. Se até um Federer comemora, porque não deveríamos comemorar o nosso set over? Maravilha!

Noites "metotrexáticas" no hospital. Intervalo de mais de duas horas sem bips é lucro. Vamos aprendendo a dormir assim. Faz parte da vida noturna internada no Planeta Leucemia. O que importa é que a nossa pequenina durma bem, com fraldas que não vazem e que as medicações entrem todas nos horários certos, correndo em paralelo à hiperhidratação, que vai até o fechamento do cateter para ir embora.

O barulho dos fogos dos tricolores e dos diversos argentinos torcedores do Boca Juniors que moram no Bairro Peixoto não deixaram a Bela dormir. Ficamos pasmos com o tamanho da colônia que tem naquela bucólica área de Copacabana! Não sabíamos! Bem que ontem tentamos começar a ajustar o fuso horário da baixinha, mas foi dormir somente meia-noite. Ela está bem mais sensível, principalmente aos barulhos. Parte é pela idade, pois com a Nana foi assim, mais ou menos nessa época, e parte deve ser por uma sensibilidade mais apurada pela doença, ou dos poucos momentos de liberdade que ela lhe permite, uma sensibilidade que vai da reação ao barulho dos fogos à delicadeza de uma folha caindo de uma árvore, como já relatamos detalhadamente extasiados.

O humor variou bastante, diferentemente do apetite , que infelizmente não variou. Piora mesmo e faz parte do jogo. Por mais que os remédios contra enjôo entrem e se mostrem eficazes, não há mágicas para fazê-la almoçar ou jantar bem, mas as mamadeiras com a Bela dormindo são bem sorvidas e todas reforçadas com complementos ultra-calóricos. A temperatura já volta para os padrões normais, demonstrando que o seu corpinho absorve as drogas que recebeu. De manhã uma boa andança pelo corredor do hospital, com a fofinha carregando sua malinha de rodas com bonecas e roupinhas, de leging e tênis, sendo a sensação do andar, rebolando seu bumbunzinho recheado pela fralda, fazendo as médicas e enfermeiras babarem, pois fala com todos que já conhece. Depois do "jogging" feito, hora de abrir o lençol do playpital, quando fizemos mais uma troca de turno. O Rodrigo tinha um almoço de trabalho e a Bel almoçou mais cedo e voltou para o hospital.

Mamãe chegou a tempo de acompanhá-la para a tão esperada ultra-sonografia do fígado. Fazemos com somente uma médica, quem o nosso pediatra e a hematologista confiam plenamente. Portanto, nos adequamos à sua agenda no hospital. Ela nos tranquilizou que de fato há uma distensão no fígado, provavelmente causada pela medicação que recebe, mas o mais importante é que não há sinais de lesão. Mais um exame marcado para a semana que vem para acompanhar. Nesse meio tempo, foi feito o teste sérico, que mede o nível de MTX no sangue. Show! A menos da metade do valor-padrão esperado, que nos deu o alvará de soltura, após a última dose do medicamento do resgate. Marcado para 8:30 PM. Meia hora para correr, mais o tempo para fechar o cateter, 9:30 PM. Tarde? Talvez. Mas para o horário que a Bela tem dormido, e pelo conforto que é dormir em casa, não pensamos duas vezes em chegar em casa tarde.

Nana tinha ficado em casa brincando com a priminha Bia e não foi nos encontrar no hospital. Rodrigo voltou dos seus compromissos e ficamos contando os minutos para voltar para casa. É muito bom! A Bela também contava os minutos. Enquanto corriam os últimos remédios, a baixinha falava: "Eu vou chamar a Dani (uma das enfermeiras) para fechar o cateter!". Já sabe tudo! Falamos que o humor variou? Fechou em alta!

A chegada em casa e a alegria das duas ao se verem consegue nos emocionar mais uma vez. Não cansa. Talvez seja a melhor parte de quando elas ficam sem se ver. A Nana e Bia correndo na garagem para verem a Bela e a atenção da Nana com a Bela é de encher os olhos de lágrimas. Toda cheia de cuidados com a irmã, que estava em uma alegria só por estar no seu cantinho. O ápice foi a Nana dando banho na Bela, "carregando" ela para o quarto, secando a irmã, cuidadosamente tirando o plástico protetor do seu cateter, penteando-a, passando perfume, escolhendo um pijaminha e correndo para trocar o seu para ficarem iguais. Ganhou de presente um: "Nana, eu amo vochê!", que respondeu com um "Obrigada" mais meloso impossível. Um amor verdadeiro, genuíno, muito puro, com palavras lindas, carinhos mil, tudo de coração. Uma verdadeira lição de amor.

Menos uma semana pesada e agora só falta uma. Ganhamos mais uma de descanso e vamos para o set final, que começará a ser jogado no dia 16, se as taxas todas estiverem legais. O tempo não para no Planeta Leucemia e na semana "off-pital" a agenda já está cheia: hemogramas de checagem, troca de curativo do cateter, nova ultra-sonografia para o fígado e tentativa de um outro exame que já deveríamos ter feito para checagem do rim, lá daquela época dos fungos. Este último exame é bem chato, pois tem que ser feito fora do hospital, com veia puncionada para a injeção de contraste.

É o set final de mais uma partida deste campeonato, pois há ainda muito jogo pela frente e por mais que não queiramos sofrer por antecedência, nosso próximo adversário é duro. Melhor, como bem definido pelo Cooper, adversário é a leucemia. As drogas e medicamentos são nossos parceiros de dupla. No próximo bloco que virá, já nos disseram que o nosso parceiro, que joga do nosso lado é um "grosso", que além de ter saque forte, também é um desajeitado e acerta boladas no parceiro que está na rede, e dizem que ele é mal-humorado, mas que vai nos ajudar a ganhar o próximo jogo.

Obrigado maaais uma vez por tanto colo virtual, espiritual e real. É muito bom! Fiquem com Deus e amanhã damos mais notícias.